• Teresa Ruas
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Teresa Ruas e a família (Foto: Arquivo pessoal)

Teresa Ruas e a família (Foto: Arquivo pessoal)

No dia em que homenageamos a nós, mães, não consigo não refletir sobre um dos grandes ensinamentos que aprendemos dentro de uma UTI Neonatal, com os nossos prematuros; ou quando ficamos presas em uma cama, diante de um repouso absoluto em uma gravidez de alto risco; ou quando temos que lidar com dores existenciais, tais como a perda de um filho. Já dialoguei sobre esse ensinamento em outros textos, mas creio que cabe relembrar, justamente, porque o mesmo é sempre cabível para os momentos difíceis e inesperados que a vida nos reserva. VIVER UM DIA DE CADA VEZ é um ensinamento árduo, penoso, sofrido, mas extremamente necessário, inclusive para os dias atuais.

Nesta semana, refleti o quanto já enfrentamos, como mães de UTI, gestantes de risco ou mães de anjos, dias melhores e dias piores, não é mesmo? Dias em que conseguimos sentir uma imensa esperança, fé, otimismo e dias em que acordamos sem nenhuma vontade de enfrentar os problemas, as nossas dores, as angústias e incertezas. Vivemos instabilidades, assim como os nossos filhos, em uma UTI Neonatal. Os pequenos também vivenciam ou já vivenciaram dias mais estáveis clinicamente e outros bem instáveis. Penso o quanto a vivência da maternidade nos dias atuais, de profundas mudanças na qualidade de nosso cotidiano e no dia a dia de nossos filhos pela Covid-19, também está nos proporcionando dias mais fáceis e dias também muito difíceis. E seria muita utopia, acharmos que somente nos dias de isolamento social, a maternidade nos traz dias bons e felizes e dias também muito ruins e difíceis.

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Tenho pensado, desde o dia em que me tornei mãe, que viver a maternidade, talvez, seja a maior experiência e escolha afetiva de nossas vidas para de, fato, aprendermos a VIVER UM DIA DE CADA VEZ, uma etapa de cada vez, uma fase de cada vez. Com a maternidade, não conseguimos ser imediatistas ou programar o futuro próximo. Literalmente, fatos, eventos, situações, acontecimentos inesperados e inusitados permeiam as 24 horas diárias de uma mãe, seus filhos e sua família. E se, em apenas 24 horas, tudo pode mudar, imaginem em uma semana, um mês, um semestre, um ano? Impossível não tentarmos aprender com a maternidade, a necessidade de vivermos um dia de cada vez.

Não digo que essa escolha seja fácil. Pelo contrário! É uma escolha muito difícil e que nos demanda muito. Porém, ao mesmo tempo, é uma escolha que também pode nos acalentar. Tudo bem ter dias muito difíceis e exaustivos com os filhos e a família. Poderemos ter outros dias mais fáceis e menos exaustivos... e que nos fazem ter a certeza de que a maternidade foi e é uma escolha afetiva e diária.     

Compreendo que afeto não é somente um conjunto de sentimentos, mas, antes de tudo, uma condição/um estado/uma pré-disposição a construir uma relação com o outro, com os nossos filhos, tanto em dias felizes/ estáveis, como em dias ruins/instáveis e sem cobrar nada em troca.

A maternidade, o maternar precisa ser mesmo uma escolha afetiva e pessoal, justamente, porque, pelo fato de poder ser uma escolha, talvez seja mais fácil perceber e compreender, com menos culpa, que nenhuma mãe será a mulher maravilha, a super nanny ou uma feiticeira que resolve todos os problemas, em questão de segundos. Toda escolha tem suas facetas de alegria e as suas facetas tristes e de dificuldades. Mas quando a escolha é feita por nós, parece que lidamos melhor com as tristezas, por mais difícil que isso possa ser para cada uma de nós.

É uma escolha que nos exige, diariamente, uma maturidade pessoal e afetiva. E, além disso, uma capacidade “camaleão” de nos adaptarmos frente aos infinitos acontecimentos inesperados do dia a dia - que podem ser tantos que, nas primeiras horas do dia, já estamos exaustas e com os cabelos em pé. Mais uma vez, a compreensão afetiva do que significa e significou para cada um de nós a escolha de ser mãe faz toda a diferença. A escolha diante de pressões sociais, familiares e/ou diante do próprio relógio biológico feminino podem gerar muitas outras caraminholas e questões internas. Independente do motivo que nos levou para o mundo da maternidade, com certeza, todas vamos chorar, sentir angústia e incerteza, entre outras questões.

Porém, a maternidade tem também uma linda faceta: a de um amor construído dia a dia, fase a fase, ano a ano; entre lágrimas e sorrisos. O amor por um filho é um sentimento que pode nos mover, nos curar, nos transformar, nos amadurecer e nos reinventar. É algo tão forte e verdadeiro, que um simples beijo de um filho faz com que as energias sejam recarregadas, para que possamos VIVER MAIS UM DIA.

Assim como um beijo de mãe tem o poder de curar um machucado e acolher as dores de um tombo, o beijo e um abraço de um filho tem o poder de amenizar culpas, angústias e regenerar o coração e as energias afetivas. A lembrança marcada em nossos corpos ou braços de já termos tido um bebê conosco, mesmo que hoje ele esteja em outra dimensão, nos dá a certeza de que somos mães para sempre. 

Portanto, o que eu posso desejar para as mais variadas mães, com as suas mais diversas dores, tristezas e alegrias? Com toda a minha sinceridade, que possam viver a maternidade, como uma de suas mais profundas e verdadeiras escolhas afetivas. Que possam experimentar o quanto o amor entre mães e filhos pode curar e amenizar dores existenciais. O quanto o amor entre mães e filhos pode regenerar a alma e o corpo, para no tornar aptas a viver mais um dia, mais uma fase, mais uma etapa e mais um ano em família.

Um grande abraço, com afeto.

Teresa Ruas, a filha Maitê, o marido Marcel e o filho Lucca (Foto: Arquivo pessoal)

Teresa Ruas, a filha Maitê, o marido Marcel e o filho Lucca (Foto: Arquivo pessoal)

Teresa Ruas é terapeuta ocupacional infantil, mãe de 2 prematuros, escritora e organizadora do livro Prematuridade Extrema: olhares e experiências, fundadora e coordenadora do prematuros.com.br e @prematurosbr e integrante voluntária da ONG Prematuridade.com



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