Por Gabriela Macêdo, g1 Goiás


Exame de ultrassom realizado em Mariana e foto dela sendo amparada pelo marido e com Júlio César no colo, em Goiânia — Foto: Arquivo pessoal/Mariana Oliveira

Aos 30 anos, a goiana Mariana Oliveira descobriu, aos 7 meses de gestação, que precisaria interromper a gravidez após receber a notícia de que seu bebê não possuía cérebro e não tinha chances de sobreviver após o nascimento. Após a indução do parto, o pequeno Julio César nasceu e morreu três horas depois. Para entender melhor sobre essa má formação, o g1 falou com a ginecologista e obstetra Carolina da Cunha Parreira, que explicou como ela acontece.

"A anencefalia é incompatível com a vida. A sobrevida é baixíssima. A anencefalia não é considerada tão rara. A média é que um a cada mil podem ter a malformação", explicou a médica.

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Mão de Júlio César segurando a de seus pais, em Goiânia, Goiás — Foto: Arquivo pessoal/Mariana Oliveira

Anencefalia

Ao g1, a ginecologista e obstetra Carolina Parreira explicou que a anencefalia é causada por falha de formação do tubo neural que ocorre antes do nascimento do bebê. Essa deficiência faz com que haja o fechamento do tubo neural, que atrapalha o desenvolvimento da calota craniana.

Essa calota tem a função de proteger o crânio e, sem ela, a massa encefálica fica exposta e em contato com o líquido amniótico, fazendo com que o cérebro seja deteriorado.

A ginecologista ainda explicou a diferença da anencefalia com a microcefalia, que é um outro tipo de malformação. Ela explica que, enquanto a anencefalia é incompatível com a vida, a microcefalia possui maior chance de sobrevivência.

Isso, poque a anencefalia consiste na ausência parcial do encéfalo, da calota craniana e das meninges (membranas que revestem o cistema nervoso central), já a microcefalia se trata do desenvolvimento não adequadro da cabeça da criança. Assim, a cabeça é menor do que o esperado para a idade.

De acordo com dados publicados pelo Instituto de Assistência dos Servidores Públicos de Goiás (Ipasgo) em suas redes sociais, 50% das mortes de fetos diagnosticados com anencefalia acontecem ainda dentro do útero. Já quanto aos bebês diagnosticados com anencefalia que nascem com vida, 99% morrem após o parto.

"Apenas 1% sobrevive por horas, dias ou pouquíssimos meses, pois conseguem involuntariamente engolir, respirar e manter os batimentos cardíacos, funções controladas pelo tronco cerebral, uma região que não é atingida pela anomalia", escreveu o instituto.

Mulher grávida — Foto: Vanessa Martins/G1

Como e quando é diagnosticada?

A médica Carolina Parreira ainda explicou que o diagnóstico da anencefalia depende do tempo de formação do tubo neural, que acontece até a 13ª semana e o 6º dia de gravidez.

"Essa formação acontece até 13 semanas e 6 dias, período que já terminou o fechamento. Então a gente consegue dar o diagnóstico mais preciso a partir dessa data", complementou.

O diagnóstico da anencefalia é feito por meio do ultrassom morfológico, que é o exame de imagem onde é possível avaliar a gestação de forma detalhada.

"Quando estamos fazendo o pré-natal regular, [é possível diagnosticar a anencefalia com o] que seria o morfológico de primeiro trimestre ou ultrassom para ver translucência nucal. No entanto, como o exame é operador dependente, isso significa isso que vai depender de quem faz o exame. Às vezes alguns diagnósticos passam batidos, mas o ultrassom morfológico do segundo trimestre deve dar o diagnóstico", disse a ginecologista.

Prevenção

De acordo com a médica, a falta do ácido fólico, também conhecido como vitamina B9, é uma das principais causas da anencefalia. Por isso, com o acompanhamento médico, ele é usado de forma preventiva durante a gestação.

"Diante desse quadro vemos a importância de programar a gravidez e ter um pré-natal bem feito, pois o ácido fólico usado até antes da gravidez e, nos primeiros 3 meses [da gestação], previnem várias doenças de formação do tubo neural. Uma delas é anencefalia", explicou Carolina Parreira.

O aborto é legal no Brasil em 3 situações: estupro, risco à vida da gestante, anencefalia do feto — Foto: Arte/g1

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